2009-08-18

A dimensão real.


Era uma tarde fria do mês de julho quando minha sogra mencionou que havia acabado a lenha para o fogão. Prontamente me ofereci para cortar. Peguei um machado e comecei.

Meu cunhado, que tem onze anos, observando o que eu fazia fez a pergunta:
Por que tem que cortar a lenha antes de colocar no fogão?
É porque não tem espaço para uma desse tamanho?

Respondi que sim, porém a pergunta despertou uma curiosidade no sentido de aproveitar aquela experiência, que parecia simples e um pouco incômoda, para refletir (estava muito frio para cortar lenha) para refletir.

Comecei a imaginar que poderia haver um motivo, além do tamanho, para cortar a madeira.

Quando consegui a quantidade suficiente de lenha cortada, organizei e levei para o lado do fogão, para que minha sogra iniciasse o tão desejado fogo.
Nesse momento que ela disse: Tem que cortar alguns bem pequenos, ou não vai pegar fogo.
Peguei novamente o machado e fui cortar algumas lascas.

Quando terminei, organizei tudo novamente, e pedi para observar como ela preparava o fogo.

Ela retirou do fogão as cinzas que restaram do dia anterior, verificou se os gravetos estavam secos, colocou-os dentro do fogão e ateou fogo.
Assim que os gravetos estavam completamente em chamas ela colocou um pedaço da lenha dos que eu havia cortado.
Finalizando ela disse: Pronto, agora é só cuidar para não faltar lenha que não apaga.

Olhando para aquele fogo, que era maravilhoso tendo em vista o frio que fazia, aproveitei para refletir sobre como tratava meus problemas e minhas idéias.

Percebi que muitas vezes tratei meus problemas como os troncos de madeira.
Muitas vezes deixei que se tornassem tão grandes que as ferramentas que estavam a minha disposição eram insuficientes para resolver.
Precisava me dedicar a obter a ferramenta certa, no momento certo, e, como protelava, eram em dias nada agradáveis que precisava me envolver para resolvê-los.
Algumas vezes os problemas eram do tamanho dos gravetos, mas eu os via como se fossem o tronco de uma grande árvore.

Quanto as minhas idéias as constatações foram ainda piores.
Entendi o motivo pelo qual muitas vontades, desejos, sonhos não se tornavam realidade.
Sempre queria que fossem algo grande, magnífico, e me esquecia (provavelmente não sabia) de que as grandes realizações um dia foram pequenas.
Curiosamente as idéias que pareciam ser mais insignificantes também eram as mais sinceras, com mais intenções positivas, as de mais coração, de mais sentido para a vida, simples assim.
As maiores eram muito racionais, muitas vezes sem vida.

Para mim é uma certeza como o fogo, que começa pelo graveto (que é composto do mesmo material da lenha maior) e aumenta em intensidade, “contagiando”, até o ponto de não se poder identificar como se deu esse início.

A decisão foi simples, como muito do que é bom na vida.

Tratar meus problemas quando ainda são pequenos, mas se não puder, procurar obter as ferramentas para que sempre seja possível solucioná-los.
Quanto as minhas idéias, identificar, observar e cultivar as que começam pequenas, sinceras, despretensiosas, com alegria, que fazem bem. Essas têm grande possibilidade de serem realizadas e de proporcionar realização.

Acredito que o resultado será agradável como foi o calor, do fogo, naquele fim de tarde.
Todos se sentiram bem apesar da adversidade externa, o frio.

Desejo que seus problemas sejam do tamanho que você possa solucionar, e que suas idéias mais sinceras, alegres e de coração se realizem.

Um detalhe.
Antes de tudo, retire as cinzas.
As cinzas não pegam fogo.

Uma boa semana.