2009-02-05

Travessia




Na noite que passou sonhei com dois homens.
Um se chamava SEMPRE e o outro se chamava ÚNICO.

Tinham algo em comum.
Os dois decidiram que precisavam atravessar, a nado, o Oceano Atlântico.

Tinham, também, uma diferença essencial.
SEMPRE poderia voltar, pois gozava de condições favoráveis ao retorno. Dependia apenas de sua vontade.
ÚNICO poderia até voltar, mas as condições não eram tão favoráveis assim. Não dependia apenas, ou simplesmente, de sua vontade.

Iniciou-se a travessia.

Como era previsto, e perfeitamente compreensível, SEMPRE decidiu voltar. Qualquer motivo alegado é perfeitamente aceito e incontestável. Tudo fica bem, sem mencionar a importância da experiência para sua vida. Voltou renovado, mais disposto a enfrentar as adversidades do cotidiano.

Já ÚNICO, ao olhar para trás, e não mais avistando o ponto de partida, parou. Sentiu vontade de voltar. Os motivos são os mais variados, dos extremos do racional ao emocional.
Havia um pequeno detalhe, não dependia somente de sua vontade, pois mais alguns fatores deveriam estar em sintonia para favorecer sua volta.
Respirou fundo e continuou a travessia. Entre uma braçada e outra aproveitava para refletir sobre o que viveu e o que estava vivendo.

Muitas vezes fui o SEMPRE. Aprendi muito. Foi bom.

Hoje sou o ÚNICO. Aprendo bastante também, só que de outra forma.
A intensidade da lição é exponencialmente maior. Falta mais da metade para concluir.

Acredito que vou concluir a travessia com êxito por quatro motivos.
- Recebi muito amor e carinho quando era criança.
- Recebo muito amor e carinho de quem me acompanha.
- Creio que esse amor manifesta a presença de Deus em minha vida.
- Não costumo desistir (apesar das adversidades).

Tenho apenas uma certeza.
Não sou mais o mesmo que iniciou a travessia.
Como serei ao final? Não sei. A experiência é ÚNICA.

Como cheguei a esse grau de cumplicidade, hoje não vou perguntar (provocar).

Sintam-se a vontade para comentar, ou, simplesmente, voltar.


2009-02-04

Quem pegou?



Acabara de escrever um significativo trabalho de três folhas (em conteúdo, não extensão) e, quase que instintivamente, decidi que as folhas seriam grampeadas.
Como não tinha muito tempo (sim estava com o prazo já esgotado) abri a gaveta para pegar o equipamento que realizaria a “segura união” daquelas folhas.

Fiquei surpreso (quase irritado) quando percebi que o grampeador não estava onde tinha deixado pela última vez. No lugar do grampeador.

Imediatamente lembrei que, como sou prevenido, tinha uma caixa com grampos e iniciei uma cruzada em busca da mesma.

Ao encontrá-la tive uma sensação quase que de alívio (acabou o problema), mas isso durou apenas até eu abrir a caixa e constatar que estava vazia.

Consegue imaginar como me senti?

O interessante foi o que percebi depois disso.
Uma lição simples, mas que faz diferença.

Qual é o lugar das coisas?

O lugar das coisas é perto de onde (lugar) e quando (freqüência) são utilizadas.

O grampeador e a caixa de grampos estavam vazios porque eu não os utilizava há um ano e meio. Isso mesmo 18 meses.

Como fazia tempo que não utilizava a bendito “equipamento de precisão”, não me preocupara com o lugar onde estava, nem se estava abastecido com o item metálico que une as folhas.

Acredito que os bens de uso servem para isso mesmo, e não para serem de alguém (posse e/ou propriedade).

Depois de 18 meses seria um tanto egoísta “reivindicar” que qualquer item de utilidade estivesse no lugar que eu “imaginasse”, e pronto para uso.

Lembrei de como faço para preparar o que vou comer (almoço, jantar, lanche). Os itens que deixo de procurar junto com os alimentos são os que utilizo com frequência. Estão na cozinha (panelas, talheres, pratos).

Quando mais essencial a necessidade, mais simples e compreensível é a solução.
Difícil aceitar grampeador fora do lugar e caixa sem grampos,
Também é difícil esquecer-se de comprar o tempero preferido para o almoço, e de antes verificar se a cozinha está em condições para o preparo do mesmo.

A necessidade de almoçar é bem mais essencial do que a de unir três folhas (e nem se sabe se é “para sempre”). Simplificar contribui muito para a solução, o problema é que simples não é e nunca será sinônimo de fácil.

Hoje procuro organizar os utensílios próximos de onde e quando serão utilizados.
Se não utilizo por algum tempo, pode ser o momento de repensar sua utilidade para mim. Nesse caso entrego a alguém que faça melhor uso. Afinal, foram inventados com essa finalidade.

Dessa forma não existe desgaste, e minhas necessidades são atendidas, sem falar que não fico preguiçoso.

A propósito, o problema das folhas foi resolvido com a utilização de um clipe de papel.
O mesmo preenchia os dois requisitos mencionados.
A única certeza é de que a união não foi “para sempre”.

E você?
Acredita que as coisas devem estar no lugar que você determinou?
Já se desgastou devido a isso?

Como viu já fui assim. Aprendi a ser diferente faz pouco tempo.

Estaria disposto (a) a rever este conceito?

Um abraço.